17 junho, 2010

acessibilidade: um caso de design.

Um bom projeto de design, segundo a maioria dos profissionais, é aquele que preenche todos os, digamos , “tópicos” básicos da criação: parte de um bom briefing, depois vêm os brainstorms e então o usuário parte para a construção do mesmo – isso vale para qualquer projeto.

Inicialmente, vamos nos ater ao briefing, pois é, nesse momento, que o cliente vai definir ao profissional qual é o público-alvo que a empresa do mesmo atende. Ah, o público-alvo e a web 2.0 têm tudo ver, com toda aquela história de design focado no usuário e afins. Mas isso realmente ocorre? Todo esse projeto vai se focar nas possíveis pessoas que vão usar aquele web site – sim, aqui vamos tratar de web design.

É muito simples projetar pensando em público- alvo filtrando apenas se é homem ou mulher, se tem de 18 a 25 anos ou de 30 a 50 e se gosta de chocolate ou não. Mas e quando esse público-alvo pode ir além de gostos, idade ou sexo? E quando a limitação é por conta de alguma deficiência?
Bom, dentre tudo que há sobre  direitos do cidadão, um dos que acho mais correlatos com a área de design é a questão da acessibilidade. Podendo ser abordada tanto em termos de design gráfico, produto e interiores, a acessibilidade ainda não é, na maioria dos casos de design, um dos focos principais de projeto.

Dando um pouco de foco à explanação, vamos pensar em web design para pessoas com limitações visuais – falemos, então, de cegos totais, parciais ou pessoas idosas. São poucos os sites híbridos, ou seja, cujo layout se adapta a diferentes corpos de fonte ou resoluções mais baixas – que deixa os elementos da página maiores e, por conseqüência, de mais fácil visualização para quem tem dificuldades.
Para o designer, fazer o layout e programar um site considerando todas essas opções, é, realmente, mais trabalhoso, custa tempo e nem sempre – aliás, praticamente nunca – o cliente vai se importar com isso e vai avaliar todo esse trabalho na hora do acerto de contas. Com isso, não se vê muitos designers empenhados em desenvolver um projeto que realmente atenda a todos os públicos possíveis.

No caso de pessoas completamente cegas, existem dispositivos e softwares que apóiam a navegação, convertendo, por exemplo, os textos em ondas sonoras. Um programa chamado Jaws – o mais conhecido nesse meio – faz esse serviço de transformar o texto em áudio, para assim permitir o usuário ter acesso total ao web site.
O Jaws é um software do tipo leitor de tela que fornece assistência para que pessoas com deficiência visual possam utilizar melhor o computador. Todos os passos podem ser acompanhados por áudio, via leitor de tela, permitindo assim uma configuração acessível da ferramenta. A navegação pelo Jaws é feita essencialmente pelo teclado. A ferramenta possui um conjunto de atalhos pré-configurados para inúmeras aplicações mais comuns no ambiente Windows.
É importante ressaltar que, o Jaws, funciona também para o sistema operacional, não somente para janelas da web. Em termos de aparelhos – hardware – temos um leitor de Braille. Esse objeto é dotado de pequenos pinos que podem ser aumentados ou reduzidos para formar caracteres em Braille que os surdos podem sentir. É impressionante pensar sobre o mundo de possibilidades que essas tecnologias abrem para as pessoas que são cegas. 

Foi deixado de lado o fato de pessoas cegas dependerem de outros para obter uma informação comum que outros consideram um direito adquirido, tais como jornais, revistas, declarações bancárias, transcrições escolares. No passado, quando os alunos cegos queriam matricular-se em uma universidade  eles tinham que contar com a ajuda de outros para conseguir isso. Agora, com a ajuda de um leitor de telas, os alunos cegos são capazes de usar a internet baseado em sistema de registro em muitas universidades. Esta nova capacidade lhes proporciona um maior grau de independência que anteriormente era impossível obter. Evidentemente, para a captura de informação é necessário que todo o conteúdo seja acessível para pessoas cegas, assim como para as tecnologias que utilizam.

No entanto, como nem tudo são flores, esses aparelhos e programas não resolvem de tudo o problema. A pessoa tem acesso à informação textual, porém não existe uma decodificação para as imagens e o layout – disposição dos elementos na página e afins – é ignorado. Assim, os aspectos cognitivos de visita à página – impressões, e sensações e até mesmo a intuição que o layout implica na navegação, não chegam até essas pessoas. 

Diante dessa situação, é possível mapear aonde o designer pode interferir e tornar todo esse processo melhor. Mas, penso que, antes de o designer interferir no projeto, o cliente também tem que tomar essa consciência de que toda uma adaptação em questão de layout e programação remete a mais horas de trabalho, acarretando aumento do valor final.


Com relação ao projeto de design, o primeiro passo a ser seguido pelo design é obedecer às normas regulamentadas pela W3C (World Wide Web Consortium), órgão que coordena a elaboração e padronização das regras de acessibilidade. Posteriormente, é importante que ele pense em como pode falicitar a navegação de quem não está enxergando perfeitamente – ou quem não está vendo nada – do layout que ele criou. Além disso, é importante uma formatação flexível, ou seja, que se adapte a diferentes resoluções de tela sem prejudicar o posicionamento dos elementos; a titulação de páginas com resumo do conteúdo, assim, ao entrar no site, um cego terá decodificado, através do software / hardware que utilizar, do que se trata aquela página; colocar os assuntos principais na parte superior da página, que é aonde se concentra a leitura; inclusão de links de retorno à página inicial no topo da página; planejar a possibilidade do uso do teclado ao invés do mouse; testar a compatibilidade do material versus navegador versus leitor de tela que o usuário utiliza; uso de tamanhos de fontes flexíveis; uso de alt tags para imagens, gráficos e vídeos; disponibilização de site do mapa em forma de texto; entre outras possibilidades.

Com isso, a navegação para quem tem dificuldades, com certeza fica muito mais fácil e prazerosa, digamos. Dessa forma, além de ter uma atitude consciente em termos de inclusão digital – sim, por que inclusão digital não é somente dar computador para todo mundo, mas é também projetar para que todos tenham igual direito de acesso à informação -, o designer conquista um diferencial em seu trabalho e também respeito para si enquanto profissional, diante do fato que preocupações sociais são muito bem vistas.

Com isso, vemos mais uma vez o quão crucial é o papel do designer, que diante dessas situações tem toda uma carga teórica sobre projetos, aspectos ergonômicos, gestalt e cognição, que permitem que ele trabalhe dentro das necessidades desse usuário.

2 comentários:

  1. Vc colocou o seu texto de sociologia inteiro aqui? rsrs

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  2. Sim sim Maíra! Achei que, no fim das contas, o conteúdo ficou bem interessante. =)

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